Media: entrevista a Gabriel Magalhães sobre Portugueses e Espanhóis
Por Maria de Lurdes Vale no DN. "Ou nos salvamos com a Europa ou nos perdemos com ela" - Gabriel Magalhães é professor da Universidade da Beira Interior. No La Vanguardia publicou um texto sobre como portugueses e espanhóis olham uns para os outros.
Continuamos a ser um "mistério" para os nossos vizinhos?
Um mistério para os nossos vizinhos, mas também para nós mesmos. Portugal é um país enigmático: uma belíssima fotografia desfocada. É por isso que é maravilhoso ser português. A nossa cultura perfila-se como uma viagem rumo a qualquer coisa desconhecida. É este mistério que enfeitiça muitos espanhóis e convém não o esclarecer demasiado, se queremos que o encanto permaneça.
Portugal e Espanha beneficiaram com a adesão à União Europeia?
Ambos beneficiaram muito com a adesão. Contudo, aquilo que se verificou foi, em parte, uma alteração de cenários. Ficámos envernizados de Europa e falta eliminar o caruncho mais profundo da vida peninsular, que é uma certa falta de preparação cívica e cultural. Com a recente crise económica global essa fragilidade tornou-se mais patente. Já somos europeus por fora, agora, temos de ser capazes de o ser por dentro.
Apesar de estarmos aqui ao lado, a língua e a cultura portuguesas continuam a ser umas ilustres desconhecidas para a maioria dos espanhóis. É preconceito ou desinteresse?
Os espanhóis que amam Portugal fazem-no com generosidade ilimitada.
Mas é verdade que também há, em Espanha, muita gente que dedica ao nosso país uma altiva indiferença. Devemos, porém, reconhecer que Portugal é uma nação que sabe comprar e vender, mas por vezes não se sabe apresentar no estrangeiro. Oscila entre o exagero dos coches de D. João V e a displicência total, tantas vezes sentida na nossa representação externa.
Há cada vez mais portugueses e espanhóis a favor de uma união ibérica. Acha que esse é o caminho?
Não. Os sacrifícios que espanhóis e portugueses fazem neste momento são-nos impostos em nome de uma moeda europeia. E é a Europa que deve ser o nosso projecto. Foi a Europa que nos aproximou e é na Europa que estamos. Ao mundo não faz falta nenhuma Ibéria, que não passaria de uma potência do meio da tabela: nem a nós nos faz falta. Mas todos teríamos muito a ganhar com uma Europa forte. Ou nos salvamos com a Europa, ou nos perdemos com ela.
Viveu em Espanha vários anos e deu aulas na Universidade de Salamanca. O que mais aprecia no país vizinho?
A Espanha é um tesouro cultural, pela sua diversidade, a trepidação das cidades e a vivacidade quase dançada das pessoas. Contudo, trata-se de um país que, por vezes, mergulha nos seus infernos. Portugal funciona mais como um longo purgatório.
Um mistério para os nossos vizinhos, mas também para nós mesmos. Portugal é um país enigmático: uma belíssima fotografia desfocada. É por isso que é maravilhoso ser português. A nossa cultura perfila-se como uma viagem rumo a qualquer coisa desconhecida. É este mistério que enfeitiça muitos espanhóis e convém não o esclarecer demasiado, se queremos que o encanto permaneça.
Portugal e Espanha beneficiaram com a adesão à União Europeia?
Ambos beneficiaram muito com a adesão. Contudo, aquilo que se verificou foi, em parte, uma alteração de cenários. Ficámos envernizados de Europa e falta eliminar o caruncho mais profundo da vida peninsular, que é uma certa falta de preparação cívica e cultural. Com a recente crise económica global essa fragilidade tornou-se mais patente. Já somos europeus por fora, agora, temos de ser capazes de o ser por dentro.
Apesar de estarmos aqui ao lado, a língua e a cultura portuguesas continuam a ser umas ilustres desconhecidas para a maioria dos espanhóis. É preconceito ou desinteresse?
Os espanhóis que amam Portugal fazem-no com generosidade ilimitada.
Mas é verdade que também há, em Espanha, muita gente que dedica ao nosso país uma altiva indiferença. Devemos, porém, reconhecer que Portugal é uma nação que sabe comprar e vender, mas por vezes não se sabe apresentar no estrangeiro. Oscila entre o exagero dos coches de D. João V e a displicência total, tantas vezes sentida na nossa representação externa.
Há cada vez mais portugueses e espanhóis a favor de uma união ibérica. Acha que esse é o caminho?
Não. Os sacrifícios que espanhóis e portugueses fazem neste momento são-nos impostos em nome de uma moeda europeia. E é a Europa que deve ser o nosso projecto. Foi a Europa que nos aproximou e é na Europa que estamos. Ao mundo não faz falta nenhuma Ibéria, que não passaria de uma potência do meio da tabela: nem a nós nos faz falta. Mas todos teríamos muito a ganhar com uma Europa forte. Ou nos salvamos com a Europa, ou nos perdemos com ela.
Viveu em Espanha vários anos e deu aulas na Universidade de Salamanca. O que mais aprecia no país vizinho?
A Espanha é um tesouro cultural, pela sua diversidade, a trepidação das cidades e a vivacidade quase dançada das pessoas. Contudo, trata-se de um país que, por vezes, mergulha nos seus infernos. Portugal funciona mais como um longo purgatório.
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